“O Sudão espera uma participação ativa da Rússia no investimento direto”

O embaixador da República do Sudão na Rússia, Mohammed Siraj, falou sobre o que espera da próxima сimeira Rússia-África, até que ponto são seguros os investimentos em Sudão e por que o país pode ser considerado como “a porta de entrada para a África”.

 

Na véspera de segunda Cimeira Internacional Rússia-África, deixe-me perguntar como é que se prepara a República de Sudão para este evento?

Claro que estamos todos ansiosos pela segunda cimeira Rússia-África, a ser realizada em São Petersburgo no verão de 2023. Esta cimeira será uma continuação da anterior, que decorreu em Sochi em 2019. Na primeira cimeira, o país foi representado por delegados de alto escalão do Sudão, chefiados pelo Presidente do Conselho Soberano, Sua Excelência Abdel Fattah al-Burhan. Foi uma cimeira de muito sucesso para nós. Esperamos que a próxima cimeira, que está a ser preparada pelo lado russo, seja um sucesso. O Sudão participará da cimeira, conforme foi confirmado durante a visita do Ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia ao Sudão no dia 9 de fevereiro.

 

O que os habitantes do seu país pensam sobre a Rússia? Conhecem algo da nossa história e cultura?

A Rússia é bem conhecida no Sudão desde a época da União Soviética; milhares de sudaneses formaram-se em universidades russas e ocuparam cargos muito importantes, engajando-se para promover a história, cultura e as relações com a Rússia na sociedade sudanesa. A Rússia também é conhecida como um membro importante e ativo da comunidade internacional, seja na política ou na economia.

 

O que espera o seu país da Rússia? O que podem oferecer as empresas e a ciência russas para o desenvolvimento no Sudão?

O Sudão é um país com um enorme potencial em recursos naturais em minerais, petróleo e gás, bem como agricultura desenvolvida. A maioria desses recursos não é aproveitada e pode ser desenvolvida posteriormente. A Rússia é também um país de vastos e diversificados recursos a serem utilizados através da industrialização. Por conseguinte, o Sudão conta com a participação ativa da Rússia no investimento direto, a fim de utilizar tecnologia avançada e de ponta para fazer melhor uso dos nossos recursos em vários sectores. Ambos os países estão a trabalhar para promover as relações bilaterais, principalmente por meio da Comissão Intergovernamental, cuja última reunião foi convocada em agosto de 2022. A comissão foi chefiada pelo Ministro da Mineração, do lado sudanês, e pelo Ministro dos Recursos Naturais, do lado russo, com representantes de quase todos os setores económicos, comércio, economia, indústria, petróleo, energia e mineração de ambos os países. Os resultados da comissão são analisados em detalhe ao discutir muitos projetos de interesse. A implementação das decisões desta comissão ajudaria os dois países a desenvolver as relações ainda mais.

 

Acha que há uma oportunidade para as empresas russas investirem no Sudão? Fala-se que o negócio nos países africanos enfrenta sérios riscos, é assim mesmo?

Quanto ao tema de investimentos, acho que é seguro para as empresas russas investirem no Sudão. Agora uma das maiores empresas do setor de mineração é da Rússia e pertence à Zarubezhneft. Esta empresa agora está a investir com sucesso no setor de mineração do Sudão. Se olharmos para o mapa de investimentos do Sudão e a lei do Sudão sobre investimentos, veremos que é muito atraente para os russos virem e investirem no Sudão. No Sudão já existem empresas russas que estão a trabalhar ativamente. O mapeamento do setor de mineração do Sudão também é uma oportunidade muito boa para os investidores russos, porque esse projeto mostrará que recursos e materiais contêm-se em determinadas regiões do Sudão e qual é a sua quantidade. Também ajudará a atrair empresas russas para investir no Sudão.

Se focarmos no tema da segurança do investimento, entenderemos que o risco está sempre associado aos investimentos, onde quer que estejam. Mas se considerarmos a África como um continente com enormes recursos, temos de prestar atenção à camada interna e não à externa. Na África, a industrialização está atualmente em ascensão no Sudão e em outros países africanos. E espera-se que até 2025 a produção e a industrialização estejam no patamar de 23% do PIB africano. A economia sudanesa está a experimentar um rápido crescimento na produção e industrialização em muitos setores. E ainda estamos esperando por investimentos e parcerias com a Rússia. Queremos que a Rússia invista em vários recursos. Quando as pessoas falam sobre risco, acho melhor focar em histórias de sucesso de investimentos no Sudão e em outros países africanos. Ao focarmos nas histórias de sucesso, podemos investir em África com confiança. Como eu já disse, a África tem todas as oportunidades para os investidores nas diferentes partes do continente.

 

A África é chamada de Continente do século XXI. O que acha, porquê?

A ideia foi lançada pelo ex-presidente da África do Sul, Thabo Mbeki, em 2000, e acredito que tem uma base muito sólida. África abriga 7 das 10 economias que mais crescem no mundo. Se pegarmos a população do continente africano, que é de 1,4 mil milhões de pessoas, a maior parte dessa população está em idade de trabalhar, é jovem, qualificada e instruída. A população está a crescer rapidamente e deve dobrar em 2050. Também é significativo que quase metade da população tenha menos de 25 anos de idade. Eles contribuem muito para o desenvolvimento económico africano. No entanto, isso só acontecerá se os recursos africanos forem usados ​​de forma adequada e eficiente. África abriga quase 30% dos minerais do mundo, 8% da reserva de petróleo, 17% das florestas, 10% da água, pois o segundo maior rio do mundo está na África. O FMI afirmou uma vez que, enquanto o PIB africano cresce 4,9%, em outras partes do mundo cresce apenas 2,8%. Todos esses recursos não são utilizados na sua totalidade. É por isso que a África é chamada de continente do século XXI.

 

O Sudão também é chamado de "porta de entrada para a África". O que desejaria aos russos que estão a descobrir o seu país e todo o continente africano?

O Sudão é o terceiro maior país da África que faz fronteira com 7 países ao norte, oeste e sul. Portanto, o Sudão é um ponto de convergência para toda a África e é de fato chamado de "porta de entrada para África". Se olharmos para a história, o desenvolvimento social e a herança cultural do Sudão, perceberemos que ele representa toda a África. Os que forem para o Sudão por conta própria, encontrarão todos os aspetos culturais e sociais africanos lá. Todos eles estão representados no Sudão. Assim, a localização do Sudão, com a sua herança histórica e cultural, torna-o muito conveniente para se deslocar e interagir com outros países africanos. A cultura do Sudão, o povo do Sudão e tudo o que pode encontrar no Sudão, parecem um pequeno modelo da África.

«Apreciamos muito os resultados do nosso trabalho conjunto na Cimeira. Tenho a certeza de que os resultados alcançados constituem uma boa base para um maior aprofundamento da parceria russo-africana no interesse da prosperidade e bem-estar dos nossos povos».

Presidente da Federação da Rússia,
Vladimir Putin

A Cimeira Rússia-África, que será realizada em Sochi de 23 a 24 de Outubro de 2019, personifica os laços históricos amigáveis entre o Continente Africano e a Federação da Rússia. Esta Cimeira é de grande importância pois é a primeira deste tipo durante o período de grandes transformações globais e internacionais e, em resposta às aspirações dos povos, visa criar uma estrutura abrangente para o avanço das relações russo-africanas para horizontes mais amplos de cooperação em várias esferas.

Os países africanos e a Rússia têm uma posição comum nas actividades internacionais baseadas nos princípios do respeito pelo Direito Internacional, igualdade, não interferência nos assuntos internos dos Estados, solução pacífica de controvérsias e confirmação da fidelidade a acções multilaterais, de acordo com a visão semelhante que os dois lados têm para enfrentar os novos desafios globais. O terrorismo e extremismo em todas as suas formas, a diminuição das taxas de crescimento e a firme convicção de ambos os lados da importância de fomentar trocas comerciais e apoiar o investimento mútuo de forma a garantir a segurança, paz e desenvolvimento para os povos do Continente Africano e da Rússia.

Os países africanos têm um enorme potencial e oportunidades que, com a optimização, lhes permitirão tornar-se numa das potências económicas emergentes. Nos últimos anos, os países do Continente fizeram grandes progressos em todas as questões políticas, económicas, sociais e administrativas. Na última década, África conseguiu avanços no que diz respeito ao crescimento, que chegou a 3,55% em 2018.

Dando continuidade aos esforços dos países africanos que eles empreenderam na Cimeira da União Africana no Níger, em Julho de 2019, entrou em vigor o Acordo de Livre Comércio Continental Africano, incluindo o lançamento de respectivas ferramentas. Este Acordo é um dos principais objectivos da Estratégia de Desenvolvimento da África 2063, chamada a contribuir para a realização das esperanças do povo africano de prosperidade e uma vida digna.

Estes êxitos abrem amplas perspectivas de cooperação entre os países africanos e a Federação Russa e confirmam a determinação dos governos dos países africanos e de seus povos de cooperar com diversos parceiros, a fim de estabelecer relações mutuamente vantajosas.

Neste contexto, esperamos que a Cimeira Rússia-África contribua para o estabelecimento de relações estratégicas construtivas baseadas na cooperação entre os dois lados em várias esferas, o que ajudará a realizar as esperanças e aspirações dos povos africanos e do povo amigo russo.

Presidente da República Árabe do Egipto
Abdel Fattah Al Sisi