“Em 2035, a África será um mercado com uma população de dois mil milhões de pessoas”

O Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República Popular Democrática da Argélia na Federação da Rússia, Smail Benamara, falou das perspetivas de desenvolvimento de África no século XXI e dos benefícios para os estrangeiros que fazem negócios na Argélia.

 

O que pensam os habitantes do seu país sobre a Rússia?

A imagem da Rússia no meu país está intimamente ligada à imagem da União Soviética e ao apoio que deu ao povo na sua luta de libertação contra o colonialismo. Os argelinos mantêm viva a memória do apoio material e diplomático nos organismos internacionais da nossa luta justa pela recuperação da nossa independência após 132 anos de colonialismo. 

Mantém-se também a lembrança desse contingente de sapadores que arriscaram as suas vidas para ajudar a Argélia independente a desminar os milhares de bombas colocadas ao longo das fronteiras pelo exército colonial a leste e a oeste do país.

É preciso lembrar também as centenas de executivos argelinos que foram formados nas universidades de União Soviética e, posteriormente, da Rússia, bem como os professores russos que trabalharam na Argélia em numerosos domínios e contribuíram para a construção da economia argelina. 

A África é frequentemente chamada de continente do século XXI. A seu ver, qual é a razão?

Há várias razões. Primeiro, é graças às imensas riquezas naturais, seja no domínio energético, seja no domínio mineiro, florestal, hidroelétrico ou turístico.

Segundo, é notável a taxa de crescimento, a demografia e o potencial humano constituído maioritariamente por jovens. Em 2035, a África será um mercado de dois mil milhões de habitantes, o que gera enormes demandas em todas as áreas.

Por último, isto deve-se à ampla margem de desenvolvimento de um continente que ainda está por construir e que dispõe de uma população jovem, criativa e entusiástica.

Quais são as possibilidades que se os empresários russos têm no seu país?

Estas possibilidades são as mesmas que oferecemos aos empreendedores de todo o mundo e são semelhantes às concedidas pela legislação argelina aos operadores nacionais.

A estabilidade económica e um clima empresarial competitivo e propício ao investimento estrangeiro, baseiam-se em três elementos:

-   A adoção de uma nova lei de investimento que oferece aos potenciais investidores russos incentivos fiscais, parafiscais e alfandegários e várias outras garantias;

-   Vantagens comparativas, nomeadamente custos dos fatores de produção competitivos e vantajosos em termos de riqueza em recursos humanos e naturais, energia barata, uma rede rodoviária desenvolvida, infraestruturas básicas e pessoal qualificado;

-   A sua posição estratégica em África por ser considerada uma porta de entrada nos mercados dos países africanos, nomeadamente no contexto da sua adesão à Zona de Comércio Livre Africana (AfCFTA)

Costuma-se falar que o negócio nos países africanos é associado a sérios riscos, é mesmo assim?

Isso é mais um clichê do que uma realidade. O mercado africano é o que oferece mais oportunidades para os investidores, pois é o menos saturado em comparação com outras regiões do mundo. Há ainda muito a fazer em matéria de facilitação e simplificação, mas há, sem dúvida, um retorno considerável do investimento e vantagens comparativas não negligenciáveis ​​​​que aumentarão com a implementação da zona de comércio livre africana.

O que espera o seu país da Rússia? Em todos os campos.

O que o meu país espera da Rússia, como, aliás, de todos os outros países, é a criação de uma parceria equilibrada, duradoura, sinónimo de verdadeiro desenvolvimento. É por isso que estamos trabalhando para atrair mais investimento e um melhor equilíbrio no intercâmbio comercial. O investimento deveria manifestar-se através da criação de sociedades mistas, de manufaturas de produção industrial e de uma verdadeira transferência de tecnologia.

O que diria aos russos para que descubram o seu país e o continente africano em geral?

O meu desejo é que mais turistas russos descubram o meu país e a África em geral, para compreender melhor a riqueza e a diversidade das nossas culturas, das nossas tradições e dos nossos locais turísticos. Para isso, será necessário considerar a simplificação recíproca dos procedimentos de vistos e mais conexões aéreas. 

A Argélia possui locais turísticos excecionais como o deserto do Saara, onde se encontram todos os ingredientes para descobertas extraordinárias: dunas de areia a perder de vista, maciços montanhosos como o Hoggar, afrescos no Tassili que datam de vários milénios, uma cultura diversa e um acolhimento hospitaleiro próprio das populações argelinas locais.

«Apreciamos muito os resultados do nosso trabalho conjunto na Cimeira. Tenho a certeza de que os resultados alcançados constituem uma boa base para um maior aprofundamento da parceria russo-africana no interesse da prosperidade e bem-estar dos nossos povos».

Presidente da Federação da Rússia,
Vladimir Putin

A Cimeira Rússia-África, que será realizada em Sochi de 23 a 24 de Outubro de 2019, personifica os laços históricos amigáveis entre o Continente Africano e a Federação da Rússia. Esta Cimeira é de grande importância pois é a primeira deste tipo durante o período de grandes transformações globais e internacionais e, em resposta às aspirações dos povos, visa criar uma estrutura abrangente para o avanço das relações russo-africanas para horizontes mais amplos de cooperação em várias esferas.

Os países africanos e a Rússia têm uma posição comum nas actividades internacionais baseadas nos princípios do respeito pelo Direito Internacional, igualdade, não interferência nos assuntos internos dos Estados, solução pacífica de controvérsias e confirmação da fidelidade a acções multilaterais, de acordo com a visão semelhante que os dois lados têm para enfrentar os novos desafios globais. O terrorismo e extremismo em todas as suas formas, a diminuição das taxas de crescimento e a firme convicção de ambos os lados da importância de fomentar trocas comerciais e apoiar o investimento mútuo de forma a garantir a segurança, paz e desenvolvimento para os povos do Continente Africano e da Rússia.

Os países africanos têm um enorme potencial e oportunidades que, com a optimização, lhes permitirão tornar-se numa das potências económicas emergentes. Nos últimos anos, os países do Continente fizeram grandes progressos em todas as questões políticas, económicas, sociais e administrativas. Na última década, África conseguiu avanços no que diz respeito ao crescimento, que chegou a 3,55% em 2018.

Dando continuidade aos esforços dos países africanos que eles empreenderam na Cimeira da União Africana no Níger, em Julho de 2019, entrou em vigor o Acordo de Livre Comércio Continental Africano, incluindo o lançamento de respectivas ferramentas. Este Acordo é um dos principais objectivos da Estratégia de Desenvolvimento da África 2063, chamada a contribuir para a realização das esperanças do povo africano de prosperidade e uma vida digna.

Estes êxitos abrem amplas perspectivas de cooperação entre os países africanos e a Federação Russa e confirmam a determinação dos governos dos países africanos e de seus povos de cooperar com diversos parceiros, a fim de estabelecer relações mutuamente vantajosas.

Neste contexto, esperamos que a Cimeira Rússia-África contribua para o estabelecimento de relações estratégicas construtivas baseadas na cooperação entre os dois lados em várias esferas, o que ajudará a realizar as esperanças e aspirações dos povos africanos e do povo amigo russo.

Presidente da República Árabe do Egipto
Abdel Fattah Al Sisi